Zorra ataca cristãos e conservadores com esquete que usa técnicas refinadas de associação
O programa humorístico dos sábados na rede Globo, o Zorra, voltou a fazer piada com temas religiosos. O esquete mais longo do programa deste sábado (2), era intitulado “Deus mulher”. Ele durou três minutos e meio, enquanto outras piadas foram contadas em menos de 30 segundos, o que mostra uma grande elaboração.
Nele, um pastor chamado Natanael (Welder Rodrigues) morre e vai ao céu. Lá, ele se encontra com Deus (Débora Lamm). Quando o Senhor se apresenta a ele em forma feminina, o pastor questiona, dizendo conhecer a Bíblia e que aquela imagem não correspondia ao que ele imaginava. Isso deixa o Senhor irritado, então ele acusa o líder religioso de estar pecando por não aceitar que Deus pode ser uma mulher.
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Tentando mostrar que é poderoso, o personagem de Débora Lamm começa a fazer várias vozes diferentes, incluindo uma que seria de “revelação” e uma igual a do personagem Darth Vader. Diante da recusa do pastor em acreditar, Deus começa a tomar diferentes formas, afirmando que se apresenta como quiser.
Na sequência, diz: “Eu sou negro, negra, judeu, árabe, LGBTQ, menino, mendigo, deputado, maromba, gordinho, pastor”. Isso deixa Natanael irritado, que afirma que aquilo era um engano do “tinhoso”.
Ele passa então a simular um exorcismo, gritando “Sangue de Jesus tem poder, sai deste corpo”. Fazendo gestos desconexos, imita as línguas estranhas comuns em cultos pentecostais.
Deus então afirma que está farto e manda o pastor para o inferno.
Segue-se então uma sequencia no inferno, onde um ator caracterizado com a imagem popular do diabo (de chifres e tridente), dispara: “Você deu sorte, por que se pega Deus de TPM, aí rapaz…”
Desconcertado, Natanael começa a reclamar e o diabo diz simplesmente “é Sempre assim, Ele pode fazer o que quer. Ele pode ser o que quiser”.
Ato contínuo, o pastor diz que pelo menos o diabo é como ele imaginava. “Eu sou pela tradição, sou um conservador”. O pastor diz que poderia aceitar um “deus mulher”, mas tem dificuldades de imaginar um “deus judeu ou árabe”.
Simpático, o diabo convida Natanael para sentar e pergunta “Como andam os negócios?”
O vídeo pode ser assistido na íntegra AQUI
Fé cristã é uma piada?
Esta não foi o primeiro esquete do Zorra que zomba do cristianismo, algo que vem sendo recorrente desde o final do ano passado. Contudo, pode ser considerada a que traz a mensagem mais forte. Afinal, tenta minar a ideia de que Deus pode ser conhecido pela Bíblia e que existe apenas um Deus verdadeiro.
Estudos de semiótica e de análise do discurso poderiam mostrar muito bem que se trata de algo pensado minuciosamente, pois usa técnicas refinadas de associação. Welder Rodrigues já interpretou pastores em outros programas do Zorra, quase todos desonestos. Nesse esquete, o diabo se refere à atividade dele como “negócios”.
Também chama atenção para as ideias associadas a Deus tanto em palavras como em imagem. O Deus cristão é, também, o deus dos árabes (Allah), ainda que suas descrições na Bíblia e no Alcorão indiquem o contrário. A associação com um LGBT também é claramente associada com a frase “posso ser o que eu quiser” usada várias vezes no quadro. Trata-se de um dos lemas da ideologia de gênero.
Ao invés de simplesmente atacar a fé ou tentar dizer que Deus não existe, a opção é mostrar que todos os cristãos têm a ideia errada de Deus. E mais ainda: a associação do diabo com a ideia de “conservador” é parte do discurso libertário dos movimentos de esquerda nas redes sociais que, literalmente, demonizam o conservadorismo. Com as eleições se aproximando, é visível o objetivo aqui.
A grosso modo, o Zorra fez em 2017 o mesmo que o Porta dos Fundos fez em 2013 em um de seus esquetes mais famosos, onde revela-se que o deus verdadeiro é polinésio. Embora marcado pelo bordão “errou feio, errou rude”, a verdadeira mensagem era mostrar que ninguém pode saber como deus é na verdade. No final do vídeo, a mulher (Clarisse Falcão) diz que seu desejo era poder anunciar o engano ao pastor Silas Malafaia quando ele morresse.
Tanto na internet como na TV, os esquetes põem os pastores no “centro” do erro, numa visível associação com todos os seguidores da fé evangélica.
Quando foi reformatado, no não passado o principal roteirista do Zorra, Marcius Melhem, disse em entrevistas que a proposta era fazer um humor “popular e inteligente”. Para alcançar esse objetivo, disse que orientou os escritores das esquetes a evitar “o sexismo, as piadas homofóbicas e preconceituosas”.
Ao que parece, para a Globo ninguém pode ser ofendido, com exceção dos cristãos.
por Jarbas Aragão
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